2º Forró Bike - Tô Nem Ai - Campina Grande 2013

A frase do brasão da cidade reflete simples e puramente o que foi o "Segundo Forró Bike - Tô Nem Ai". Único entre muitos. Do planejamento à entrega dos kits, da recepção à despedida, do asfalto até a lama.... Tudo feito com responsabilidade e maestria, o que honraria os mais bravos "Tropeiros", percursores desta cidade acolhedora, de clima frio e com um povo de coração em "BRASA" !!!!

Após um saboroso e nutritivo café da manhã regado por muito forró, a alegria de reencontrar velhos amigos esquentava o clima frio típico desta região. Logo após a oração que o Nosso Senhor nos ensinou, fizemos alguns minutos de alongamento e saímos debaixo de uma "garoa". O tempo não era animador, mal  víamos o horizonte à frente, porém como loucos apaixonados por aventura seguimos adiante pela BR230, sob forte escolta da PRF. 

Com apenas alguns kms de asfalto, adentramos em uma rua de calçamento, onde os moradores nos saudavam com euforia e muita simpatia. Seguimos por uma estrada de terra castigada pela chuva. Estradas que em tempos de outrora serviram de caminhos para tropeiros, o que me fez recordar de uma belíssima história cantada pelo saudoso "Luiz Gonzaga" que diz assim: "Estala relho marvado, recordar hoje é meu tema, quero é rever os antigos tropeiros da Borborema, são tropas de burros que vêm do sertão, trazendo seus fardos de pele e algodão, o passo moroso só a fome galopa, pois tudo atropela os passos da tropa, o duro chicote cortando seus lombos, os cascos feridos nas pedras aos tompos, a sede e a poeira, o sol que desaba rolando caminho que nunca se acaba, estala relho marvado, recordar hoje é meu tema, quero é rever os antigos tropeiros da Borborema, assim caminhavam as tropas cansadas  E os bravos tropeiros buscando pousada, nos ranchos e aguadas dos tempos de outrora, saindo mais cedo que a barra da aurora, riqueza da terra que tanto se expande e se hoje se chama de Campina Grande, foi grande por eles que foram os primeiros, ó tropas de burros, ó velhos tropeiros".

Torna-se-á em alguns anos uma verdadeira epopéia. Ciclistas malucos, coloridos e sorridentes, em suas máquinas quase voadoras cruzando fazendas e chácaras, atravessando as fronteiras e desafiando os limites do corpo. Deliciando-se em trilhas e riachos debaixo chuva, subindo morros e montanhas, fantasiados ou não ao som de ritimo contagiante e efusivo denominado "Forró" !!!! 

E ela não nos deu trégua, a esperança de que o sol pudesse dar o ar de sua preciosa graça foi ficando adormecida. Com o passar das horas o tempo fechou totalmente. Em um dos pontos de apoio, lá em cima bem do alto de um morro (na cidade de Galante), o céu cinzento parecia chorar para limpar nossas tristezas. Mal víamos as belíssimas paisagens, os verdes pastos que nos rodeavam. Mesmo com o tempo conspirando contra, mesmo debaixo de chuva não houve desânimo, a contagiante alegria esquentava o ambiente e empurrava a preguiça para tras. Como cantou o maluco beleza Raul Santos Seixas: "Eu perdí o meu medo, o meu medo da chuva, pois a chuva voltando prá terra traz coisas do ar. Aprendí o segredo,o segredo da vida, vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar..."  Como não somos pedras, nem estávamos tristes, seguimos nosso caminho Galante adentro....

Como num passe de mágica a chuva nos dá uma trégua, porém a geografia da região não nos permite descanso, montanhas enormes e escorregadias a serem superadas, a chuva tornou o obstáculo ainda mais difícil. A superação era obrigatória, seja sob a bike desviando caminhos ou simplesmente ao lado dela empurrando. Em ambos os casos o nível de dificuldade era muito grande e tínhamos que chegar ao topo..

Neste cenário que para muitos é desolador, feio, repugnante e sujo..... Os não velozes e muito menos furiosos ciclistas se esbaldaram nesta mistura de areia, água, grama, "estrume" e xixi de gado. Os que ousaram em passar pedalando como este que vos escreve, literalmente andou de lado, isso mesmo, nossas bikes deslizavam lateralmente pela lama, uma deliciosa sensação de pânico, onde a queda era iminente e quase inevitável. 

O mais gratificante é o pós desafio, onde cada aventureiro comemora e relaxa a sua maneira e de acordo com suas condições físicas e psicológicas. Uns deitados eternamente em berço esplêndido descansa numa posição confortabilíssima e olha o estrago que a lama fez em sua preciosa bike. Outros porém, simplesmente abre seus braços para o alto, e com um semblante sereno e seguro que esconde um sorriso, consegue transmitir a uma lente distante o seguinte recado: "Eu consegui, superei obstáculos e estou aqui"..... Costumo dizer que, torna-se impossível o entendimento de cenas como esta, para qualquer pessoa que não pedale, a alegria eclode dentro destes loucos e apaixonados por "Mountain Bike"..... 

Continuamos nosso caminho rumo ao desconhecido, e como no mundo das trilhas nem tudo é um mar de espinhos, nossos olhos encantam-se com tamanha beleza da natureza que nos rodeiam. Ao passar por trilhas e paisagens como estas, a nossa a vida vira um filme, visto através dos nossos próprios olhos, e não importa o que esteja acontecendo. Como você percebe é que conta !!! 

"Quantas vezes a gente, em busca da ventura, procede tal e qual o avozinho infeliz: Em vão, por toda parte, os óculos procura, tendo-os na ponta do nariz!", escreveu o gaucho Mário de Miranda Quintana.  Baseado na premissa deste poema que eu particularmente acho lindo, vejo uma garotinha esbanjando simpatia e escondendo o cansaço, acompanhada de perto pelo seu também sorridente Pai (acredito), demonstra que não temos que ir muito longe para sermos felizes, para deixarmos nossas vidas trasnbordando de alegria, para criarmos em nós a sensação de satisfação....

"Contemplo o lago mudo,  que uma brisa estremece. Não sei se penso em tudo, ou se tudo me esquece. O lago nada me diz, não sinto a brisa mexê-lo, não sei se sou feliz, nem se desejo sê-lo. Trêmulos vincos risonhos, na água adormecida. Por que fiz eu dos sonhos, a minha única vida?" Recitou Fernando Antonio Nogueira Pessoa. 

E por entre belas paisagens seguimos pedalando, enfrentando ladeiras e ignorando o cansaço. Movidos pelo desejo de chegar ao nosso destino, não havia tempo ruim, não havia do que reclamar. Novamente começa a garoar na saida de Galante, um sinal que estamos chegando a Campina Grande. Sorridentes, dois dos filhos deste solo, pousa para foto, ostentando o lábaro estrelado, e demonstrando que nossos risonhos e lindos campos tem mais flores e que onde estávamos justifica o verde louro da nossa flâmula. 

Não demorou muito, até adentramos em um dos locais mais belos de Campina Grande, sim estou falando do Parque Maria da Luz, uma fazenda com aproximadamente 300.000 metros quadrados, repleta de lagoas, pássaros de diversas especies e muito verde. Logo na entrada grandes árvores se entrelaçam em suas copas, criando um verdadeiro e belo túnel para receber os ciclistas e fornecer proteção contra o sol. 

A alegria é tanta que estes incontroláveis aventureiros sentem a energia que emana deste lugar místico. Ao fundo nota-se um ciclista abrindo os braços, como se estivesse abraçando e agradecendo a mãe natureza por tão bela visão, aqui o vento quase canta....

A mágia do lugar consegue encantar até os mais experientes ciclistas, como este que demonstrando uma "Epifania", de mãos soltas, sorriso no rosto e o equilíbrio do corpo. Ao ver a foto, me questiono: Onde estavam seus pensamentos, seus sonhos neste momento ? No abraço de sua amada esposa e no carinho do seu esperto filhinho que lhes aguardavam no final da trilha? Isso só ele e DEUS sabem. Como bem escreveu Quintana  "Uma vida não basta apenas ser viviva, ela tem que ser Sonhada".....

"Era uma certa vez, um lago mal assombrado, à noite sempre se ouvia a carimbamba cantando assim: Amanhã eu vou, amanhã eu vou, amanhã eu vou, amanhã eu vou, amanhã eu vou. A carimbamba, ave da noite, cantava triste lá na lagoa, amanhã eu vou, amanhã eu vou. E Rosabela, linda donzela , ouviu seu canto e foi pra lagoa, A taboa laçou a donzela, caboclo d'água ela levou, a carimbamba vive cantando, mas Rosabela nunca mais voltou". Segundo escreveu e cantou o filho famoso do Sr. Januário.

Ainda dentro do belísismo parque, nos deparamos com um colorido resplandescente de árvores imponetes e belas, que exibiam sua folhagens, contrastando com o verde dos vales. Há alguns kms para trás, li na porta de entrada de uma pequena escola, uma singela mensagem em sua parede que  "Sejam Bem vindos! Até as rosas se alegram com a sua chegada". 

O parque Maria da Luz é realmente cheio de encantos mil, na saída do mesmo, como se fosse para agradecer nossa presença, um verdadeiro show de paisagem, um belo açude e uma estrada que parecia uma "passagem molhada", lavavam as nossas bikes. O som das águas correndo em direção ao açude do outro lado da estrada, nos traz paz e muita tranquilidade. Se estas águas pudessem falar diria: "Para o mar vou descendo por essa estrada da ribeira. A terra vou deixando de minha infância primeira. Vou deixando uma terra reduzida à sua areia. Deixando vou as terras de minha primeira infância. Deixando para trás os nomes que vão mudando. Terras que eu abandono porque é de rio estar passando. Vou com passo de rio, que é de barco navegando. Deixando para trás as fazendas que vão ficando. Vendo-as, enquanto vou, parece que estão desfilando. Vou andando lado a lado de gente que vai retirando; vou levando comigo os rios que vou encontrando."  (O Rio - João Cabral de Melo Neto)

Chegou o momento de cada um seguir viagem sozinho... A nossa saudade e a nossa esperança de um reencontro aos que, por vários motivos, nos deixaram, seguindo outros caminhos. Uma despedida é necessária antes de podermos nos encontrar outra vez.  Levaremos em nossa bagagem o sorriso e o carisma destes visantes.

" Foi há cerca de cem anos, na Fazenda Ingazeira, isso salvo algum engano, me avisem se é besteira. Veio ao mundo um menino de José e de Maria, foi chamado Virgolino, oito irmãos ele teria. Virou um temido bandido, lá pras bandas do Nordeste, vivia sempre escondido, num sofrimento inconteste. E lá se foi Lampião, embrenhar-se pelo mato, no cargo de Capitão, a fim de cumprir o trato. Para evitar o fracasso, enquanto estava no prumo, o nosso Rei do Cangaço, partiu para outro rumo. Por lá um dia ele vem, conhecer Maria Bonita, Maria Déia Nenén, numa paixão infinita. Uns poucos tiveram sorte e escaparam com vida. No meio de dor e mortes encontraram uma saída." 

Até aqui viajamos juntos. Passamos em vilas e cidades, lagos e rios, bosques e florestas... Não faltaram os grandes obstáculos.  Frequentes foram as cercas, ajudando a transpor abismos...  As subidas e descidas foram realidade sempre presentes.  Juntos, percorremos retas, nos apoiamos nas curvas, descobrimos cidades... Que as experiências compartilhadas no percurso até aqui sejam a alavanca para alcançarmos a alegria de chegar ao destino projetado. O nosso agradecimento àqueles que, mesmo de fora, mas sempre presentes, nos quiseram bem. Dividam conosco os méritos desta conquista, porque ela também pertence a  vocês. Que nossas despedidas sejam um eterno reencontro e que nossas mentes não nos traiam e nos faça sempre recordar dos momentos que passamos juntos em mais uma trilha, mais uma aventura. Um forte Abraço dos "Aventureiros do Pedal".

E o que dizer destes caras ?? Com esta alegria estampada no rosto, com a certeza de dever cumprido. Quantas noites mal dormida até esta foto ? Quantas reuniões e discursões ?? Quantas planilhas refeitas ?? Quantas ligações ?? Quantos "NÃO" recebidos ?? Quantos aborrecimentos ?? Quanto trabalho !!! É gente, o que dizer de vocês ?? Vejo apenas uma única palavra (amizade) e que não é suficiente, mas que foi o grande elo desta forte corrente que nos proporcionou momentos ímpares de alegria, satisfação e muita, mais muita diversão. A todos vocês que compõe o grupo "Tô Nem Ai", deixo a seguinte mensagem: "Soneto do Amigo" - Vinícius de Morais

"Enfim, depois de tanto erro passado, tantas retaliações, tanto perigo, eis que ressurge noutro o velho amigo, nunca perdido, sempre reencontrado. É bom sentá-lo novamente ao lado, com olhos que contêm o olhar antigo, sempre comigo um pouco atribulado e como sempre singular comigo. Um bicho igual a mim, simples e humano, sabendo se mover e comover e a disfarçar com o meu próprio engano. O amigo: um ser que a vida não explica, que só se vai ao ver outro nascer e o espelho de minha alma multiplica". Parabéns pelo brilhante trabalho.

Um forte abraço e até 2014 se DEUS assim nos permitir em mais um Forró Bike - Tô Nem Ai !!

Confiram as fotos:

Album 01 - Album 02 (Por Henrique Menezes)

Album 03  (Por Bira )

Album 04  (Por Luciano)

Album 05  (Por Jovino Cota)          

Album 06  (Por Juliana Cantero - Rapaduras Bikes)

João Pessoa 02 de Junho de 2013

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